Na Duelândia, Terra do
Pai Natal…
Duda: um nome próprio invulgar, mas tentar-vos-ei
encantar com esta história que até os corações mais gélidos poderá tocar.
Duda nasceu em Lisboa. O seu nascimento foi
anunciado pelas gaivotas que sobrevoam o Rio Tejo, num dia primaveril, de céu
limpo, cujas ondas embalaram o grito anunciador do seu nascimento, cujo grito
quis o vento transportar, carregar e levá-lo para um outro mar que pudesse o
seu nome ancorar.
No primeiro dia do seu nascimento, os seus pais
afagaram-lhe levemente o seu rosto terno e deram-lhe um adocicado beijo, um
gesto que o fotógrafo perpetuou naquela fotografia que anunciava o milagre da
vida.
Duda era uma menina luminosa, todos a amavam, mas
era diferente e, por isso, muito especial.
Quando era ainda muito pequenina, já sabendo caminhar,
e, claro, falar, era tratada por ‘‘Dudinha’’. Ela destacava-se por ser a mais
pequenina. Mas ninguém a diferenciava. Duda nascera anã, e só se apercebeu da
sua diferença quando se tornou adolescente. Os olhares dos incompreensivos a
faziam sentir assim: diferente.
Posteriormente, quando ingressou para o primeiro
ciclo, a sua alegria irradiava o sol que, nos dias solarengos, ainda sobressaía
mais, acariciando todos os rostos daquelas crianças genuínas que, no decorrer
do recreio, jogavam à bola, às escondidas, saltavam à corda … Até as folhas das
árvores abanavam como se estivessem a congratular ou até mesmo a aplaudir os
divergentes números apresentados: ilusionismo, saltadores, palhacinhos e
palhacinhas, malabaristas… Na verdade, o circo residia naquele lugar mágico que
tocava o coração de qualquer telespetador.
Aqueles quatro anos foram maravilhosos: deram-lhe
luta e a ensinaram a reconhecer o valor da simples e bela amizade, da partilha,
da solidariedade, da entreajuda…
Já com dez anos entrou para o 5.º ano. Continuou com
os mesmos coleguinhas de sempre, mas, entretanto, apercebeu-se que as coisas
tinham mudado. Sempre que se dirigia ao balcão da papelaria, como não chegava
ao mesmo, a auxiliar tinha que colocar os seus bicos em pé para a poder
conseguir ver. Outros meninos e meninas de outras turmas riam-se, dizendo «-És
baixinha! – Ó pequenina, cresce».
Na disciplina de Educação Física, não conseguia
saltar ao trampolim (as suas pernas pequenas e um pouco arqueadas dificultavam-lhe
a tarefa), no entanto, era sempre incentivada e apoiada por todos os colegas da
turma, pois o professor Hércules, homem musculado que mantinha respeito, mas
detentor de uma alma gentil e compreensiva, tinha para a Dudinha outro tipo de
exercícios.
Um dia, chegou a casa e desabafou com os pais. Eles
disseram-lhe que nem sempre as coisas correm como as pessoas querem, e que,
para sermos felizes, temos de nos olhar para o espelho e ignorarmos as bocas
infelizes de pessoas que não dão o devido valor ao que têm ou que simplesmente incitam
a situações de fúria, invejando a felicidade dos outros: algo absurdo e
incompreensível.
E, como sempre o faziam, após dias de trabalho
extenuantes, os seus progenitores perguntavam-lhe sobre a escola e ajudavam-na nas
suas tarefas. Com todo este apoio incondicional, Duda tornou-se na melhor aluna
da escola. No primeiro ciclo, fora distinguida e integrara o Quadro de Mérito
de Honra, bem como no Quadro de Mérito de Atitudes e Valores.
O dia de Natal aproximava-se…
Numa noite, Duda sonhou com a terra da Duelândia, Terra
do Pai Natal.
No seu sonho, ela era um duende ao serviço do Pai
Natal. A sua função consistia em fabricar os mais diversificados brinquedos e
embrulhá-los com laços multicolores.
Na Terra do Pai Natal, graúdos e miúdos ajudavam-se
mutuamente não havendo lugar para a diferenciação.
Dudinha, no seu sonho mágico, apresentou ao Pai
Natal um novo brinquedo: um duende da Duelândia com a seguinte mensagem: ‘‘eu
sou pequenino, mas a grandeza de um ser não se mede aos palmos. Poderás ser
importante como qualquer outra pessoa, logo que a tua alma seja pura e boa.’’ Na
sua mente sonhadora, também seria fulcral que o Natal incluísse mensagens
alusivas à moral de cada ser humano, e que se desse mais apreço aos valores da
humanidade. O Pai Natal achou a ideia genial e, no dia de Natal, convidou todos
os seus duendes para a distribuição das prendas.
O dia de Natal chegou, finalmente.
Dudinha foi acordada pelos pais. Todos se abraçaram
e abriram os seus presentes. Mas, no meio daquilo tudo, surgiu um embrulho
diferente. Dudinha, incrédula, reconheceu aquele embrulho que tantas vezes vira
no sonho. As suas mãos trémulas denunciavam a sua ansiedade e pensou «Será que
era o presente do sonho?».
Algures, poderá mesmo existir a Terra da Duelândia onde
todos os seres são iguais. Se mudássemos as nossas atitudes, no Natal entraria
o amor, a solidariedade, sem lugar ao preconceito, amando cada ser vivo de
qualquer jeito.
Cristina Teixeira Pinto _ Vila Cova da
Lixa
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