quarta-feira, 25 de maio de 2016

Em vésperas de feriado e quase no final de ano letivo deixamos o belíssimo poema "De Tarde" de Cesário Verde. Última matéria a lecionar.

            DE TARDE
Naquele pic-nic de burguesas, 
Houve uma coisa simplesmente bela, 
E que, sem ter história nem grandezas, 
Em todo o caso dava uma aguarela.


Foi quando tu, descendo do burrico, 
Foste colher, sem imposturas tolas, 
A um granzoal azul de grão-de-bico 
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos, 
Nós acampámos, inda o Sol se via; 
E houve talhadas de melão, damascos, 
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda 
Dos teus dois seios como duas rolas, 
Era o supremo encanto da merenda 
O ramalhete rubro das papoulas!

                  O Livro de Cesário Verde, Lisboa, 1887

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